) Edimar
Luz é escritor/cronista, poeta, professor e sociólogo.
O
reisado, que também é uma das múltiplas manifestações folclóricas que compõem
nosso espaço cultural, teve origem nas festas portuguesas denominadas janeiras,
que aqui em nosso país se celebravam e se festejavam ativamente até o final do
século XlX, desde o Natal até o Carnaval. Hoje, até o dia 6 de janeiro.
Como
sabemos, reisado é uma dança dramática tradicional que consiste na adaptação
coreográfica de romances e cantigas populares, com versos religiosos ou
humorísticos em louvor dos Reis Magos, e, por isso, executada por grupos que
cantam e dançam, sobretudo na véspera e no Dia de Reis, 6 de janeiro, tendo
como acompanhamento instrumental, uma sanfona ou harmônica, zabumba etc., que
animam/alegram as toadas dos reisados.
Convém
esclarecer que este folguedo tradicional e de grande aceitação popular, e que,
na realidade, também faz parte da nossa cultura, encontra-se, hoje,
praticamente desaparecido e relegado ao esquecimento, em virtude de alguns
fatores, entre os quais podemos citar: a falta de incentivo e principalmente a
inexistência de interesse e de empenho das gerações mais jovens.
É
importante ressaltar aqui o antigo reisado do Bairro Ipueiras, que ao longo do
tempo fez inúmeras apresentações em toda a região e em algumas outras cidades
piauienses, inclusive na Capital do Estado, algum tempo atrás. O nosso reisado
teve uma participação importante, ao fazer uma apresentação memorável no centro
de Picos, por ocasião das comemorações do centenário da nossa cidade, em
dezembro de 1990, sendo bastante aplaudido pelo público presente.
O reisado
de Ipueiras era composto por um tocador de sanfona, ou harmônica, três caretas,
grupos de galantes, damas, o lacaio, a burrinha... E o chamado “boi do reis”,
que era representado de um modo geral por uma armação leve, recoberta de pano
colorido e animada por um homem ágil que ficava em seu bojo durante a
apresentação. O meu pai também foi por certo tempo, nas horas vagas e de
descanso, ou em finais de semana, um dos integrantes do grupo de reisado do Bairro
Ipueiras, na condição de tocador de harmônica, uma pequena sanfona de oito
baixos, instrumento este também chamado aqui de sanfona pé de bode. Aliás,
todos os componentes do nosso reisado, eram membros da nossa enorme e
tradicional família Luz, Araújo... De origem hispano-portuguesa.
Na
verdade, desde criança, tive a oportunidade de assistir a várias apresentações
do nosso grupo de Reisado, aqui mesmo no Bairro Ipueiras, naquelas alegres e
saudosas noites folclóricas do passado. Desde então pude verificar e constatar
a beleza e a importância das manifestações culturais de um povo, sobretudo
quando dotadas e impregnadas de originalidade e/ou autenticidade, numa
consonância quase indescritível.
Numa
noite dos meados da década de 70, o Reisado do Bairro Ipueiras fez uma bela e
memorável apresentação também no Campus Avançados/Projeto Rondon, no Bairro
Junco, para o encanto e admiração dos universitários e universitárias goianas
integrantes do projeto Rondon em Picos. Lembro também que não paravam de fotografar,
a todo instante tiravam fotos do Reisado; o flash das máquinas fotográficas
misturava-se à luminosidade ambiental e ao brilho do reisado. E eu estava lá em
meio ao público, assistindo àquele animado e belo espetáculo.
Convém
esclarecer aqui, que é de capital importância a preservação da nossa cultura
popular. Para isso, necessitamos do empenho e da colaboração de todos, para que
possamos manter e perpetuar a história do nosso povo.
Este artigo/texto faz parte do meu livro Memórias do Tempo. Direitos
reservados.
Edimar
Luz é escritor/cronista, poeta, professor e sociólogo formado em Recife-PE.
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