segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Reizado de picos!



) Edimar Luz é escritor/cronista, poeta, professor e sociólogo.


O reisado, que também é uma das múltiplas manifestações folclóricas que compõem nosso espaço cultural, teve origem nas festas portuguesas denominadas janeiras, que aqui em nosso país se celebravam e se festejavam ativamente até o final do século XlX, desde o Natal até o Carnaval. Hoje, até o dia 6 de janeiro.

Como sabemos, reisado é uma dança dramática tradicional que consiste na adaptação coreográfica de romances e cantigas populares, com versos religiosos ou humorísticos em louvor dos Reis Magos, e, por isso, executada por grupos que cantam e dançam, sobretudo na véspera e no Dia de Reis, 6 de janeiro, tendo como acompanhamento instrumental, uma sanfona ou harmônica, zabumba etc., que animam/alegram as toadas dos reisados.

Convém esclarecer que este folguedo tradicional e de grande aceitação popular, e que, na realidade, também faz parte da nossa cultura, encontra-se, hoje, praticamente desaparecido e relegado ao esquecimento, em virtude de alguns fatores, entre os quais podemos citar: a falta de incentivo e principalmente a inexistência de interesse e de empenho das gerações mais jovens.

É importante ressaltar aqui o antigo reisado do Bairro Ipueiras, que ao longo do tempo fez inúmeras apresentações em toda a região e em algumas outras cidades piauienses, inclusive na Capital do Estado, algum tempo atrás. O nosso reisado teve uma participação importante, ao fazer uma apresentação memorável no centro de Picos, por ocasião das comemorações do centenário da nossa cidade, em dezembro de 1990, sendo bastante aplaudido pelo público presente.

O reisado de Ipueiras era composto por um tocador de sanfona, ou harmônica, três caretas, grupos de galantes, damas, o lacaio, a burrinha... E o chamado “boi do reis”, que era representado de um modo geral por uma armação leve, recoberta de pano colorido e animada por um homem ágil  que ficava em seu bojo durante a apresentação. O meu pai também foi por certo tempo, nas horas vagas e de descanso, ou em finais de semana, um dos integrantes do grupo de reisado do Bairro Ipueiras, na condição de tocador de harmônica, uma pequena sanfona de oito baixos, instrumento este também chamado aqui de sanfona pé de bode. Aliás, todos os componentes do nosso reisado, eram membros da nossa enorme e tradicional família Luz, Araújo... De origem hispano-portuguesa.

Na verdade, desde criança, tive a oportunidade de assistir a várias apresentações do nosso grupo de Reisado, aqui mesmo no Bairro Ipueiras, naquelas alegres e saudosas noites folclóricas do passado. Desde então pude verificar e constatar a beleza e a importância das manifestações culturais de um povo, sobretudo quando dotadas e impregnadas de originalidade e/ou autenticidade, numa consonância quase indescritível.

Numa noite dos meados da década de 70, o Reisado do Bairro Ipueiras fez uma bela e memorável apresentação também no Campus Avançados/Projeto Rondon, no Bairro Junco, para o encanto e admiração dos universitários e universitárias goianas integrantes do projeto Rondon em Picos. Lembro também que não paravam de fotografar, a todo instante tiravam fotos do Reisado; o flash das máquinas fotográficas misturava-se à luminosidade ambiental e ao brilho do reisado. E eu estava lá em meio ao público, assistindo àquele animado e belo espetáculo.   


Convém esclarecer aqui, que é de capital importância a preservação da nossa cultura popular. Para isso, necessitamos do empenho e da colaboração de todos, para que possamos manter e perpetuar a história do nosso povo.
                Este artigo/texto faz parte do meu livro Memórias do Tempo. Direitos reservados.

Edimar Luz é escritor/cronista, poeta, professor e sociólogo formado em Recife-PE.

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